quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Vocês que fazem parte dessa massa


- Teco, não consigo entender como vocês humanos conseguem, ao mesmo tempo, conceber figuras históricas geniais, como Galileu, Da Vinci, Mandela, Drummond, etc. e tal, e massas tão decadentes, como racistas, fascistas, homofóbicos, intolerantes, etc.... Consegues me explicar?
- Hum... Como você anda ácido hoje. Estou me sentindo naquela confusão intelectual que me pede pra colocar de molho todos os meus julgamentos...
- Entendi. Você já não sabe o que é certo ou errado, bom ou ruim... Só não me venha com o papo de que cada um tem a sua opinião.
- O que você quis dizer com isso?
- Massa. Boa parte de vocês é massa de manobra, manada que segue o rumo que a maioria toma!
- Putz! Hoje você tá pegando pesado com os humanos, hem?


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ausência

Durante minha ausência bolinei com a saudade. Retirei-me da tomada, precaução pra respirar um mundo novo. Salvo, não quis ser confundido com um pen drive carregado de dramas e conflitos. Quis abrir as portas das percepções e mergulhar num para-universo, me afastar desses humanos quase-máquinas barulhentas e ansiosas. A vida é jogo rápido e monótono. Um jardim da infância habitado por monstros. Sobreviva. Acomode-se. Sorria, você está sendo devorado.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)


sábado, 15 de agosto de 2015

O que é que tem?

Se você é banguela, míope ou careca, narigudo, surdo ou furta-cor, o que é que tem? Você pode ser espinhento, gordo e tímido, chegar por último e dançar sozinho, ter pais ridículos ou ser adotado... Mas você pode ter amigos e amores invisíveis, e provar pra todo mundo – de Ijuí a Boa Vista do Cadeado – que todos, todos menos você, são estranhos e retardados!

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Doce sonho


Sonhei que competia com crianças, numa disparada frenética. Quem se aproximava da linha de chegada tinha água na boca. É que os troféus eram doces, lindas tortas, sorvetes, sucos e quindins. Quanto mais corria, mais distante do pódio ficava – e minhas pernas flutuavam sem sair do lugar, tamanha era a sede e a fome. Foi tanta aflição, tanta dor, que pra minha sorte fui salvo com o berro do despertador!

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

domingo, 9 de agosto de 2015

The day after - Antonio Prata



ET - E acabou por quê?
Último Remanescente da Humanidade (URH) – Resumindo bem, a Terra esquentou muito e a gente, tipo, cozinhou.
ET – Ah… Foi meteoro? Vulcão? Gigante Vermelha?
ÚRH – Não, no caso, foi vacilo, mesmo. A gente queimou petróleo, muito petróleo, até o mundo virar uma sauna seca.
ET - E queimaram petróleo pra quê?
ÚRH – Pra se locomover, basicamente. A gente criou umas caixas de metal que queimavam petróleo e te levavam de lá pra cá, sem você ter que cansar as pernas.
ET - E vocês iam de lá pra cá, pra quê? Pra fugir de predadores?
ÚRH – Não, não. Os predadores viraram bolsa e tapete bem antes. A gente queimava petróleo pra ir e voltar do trabalho, da padaria, do posto, onde a galera ia encher a caixa de metal com mais petróleo e fazer uma social na lojinha, tomando Skol latão.
ET - E por que vocês não iam a pé pro trabalho, pra padaria, pro posto, fazer social na lojinha, tomando Skol latão?
ÚRH – Porque todo mundo se aglomerava numas cidades enormes e acabava ficando meio longe do trabalho, da padaria, do posto.
ET – E por que vocês não se dividiam em cidades menores, onde dava pra fazer tudo a pé?
ÚRH – Porque nas cidades enormes tinha mais possibilidade de trabalhar e de ganhar dinheiro pra poder comprar uma caixa de metal maior e mais cara, que gastasse mais petróleo.
ET - E por que alguém quereria isso?
ÚRH - Porque dava status e status era tudo. No trabalho, na padaria, no posto, neguinho via tua caixona de metal, capaz de ir a 240 km/h e dizia: “Pô, ó o cara!”.
ET - Nossa, olhando esses escombros, agora, nem dá pra imaginar que por aqui passavam caixas de metal a 240 km/h.
ÚRH – Não, na verdade, não era assim, não: como eram muitas caixas de metal e todos queriam se locomover ao mesmo tempo, ficava tudo engarrafado. Nos horários de pico a média era de 8 km/h.
ET – Ué, até onde eu sei, com as pernas vocês podiam ir mais rápido que isso, não?
ÚRH – Poder, podia. Mas a gente preferia ir devagarinho na caixa de metal, com os vidros fechados, ar condicionado e insulfilme, de boa, ouvindo notícias sobre o trânsito e tirando meleca do nariz.
ET – Tirando meleca do nariz? Dava algum prazer físico, isso?
ÚRH – Dava um prazer medíocre. E uma culpinha, também. Prazer mesmo dava era o sexo, mas no fim ninguém mais tinha tempo pro sexo, porque tava ou trabalhando que nem louco pra comprar uma caixa de metal, ou parado dentro da caixa de metal, por horas, tentando chegar ao trabalho, onde trabalharia que nem louco pra comprar outra caixa de metal.
ET – Então vocês todos morreram porque gostavam de ficar parados em caixas de metal que queimavam petróleo pra levar vocês de lá pra cá a uma velocidade inferior à das próprias pernas?
ÚRH – É. Por causa disso, das bandejinhas de isopor e de umas pessoas que insistiram até o fim em empurrar folha na calçada com o esguicho.
ET – Oi?
ÚRH – Esquece. Podemos falar de outro assunto? E lá de onde cê vem, é bonito? Fresquinho? Tem praia?
(Antônio Prata é escritor. Publicou livros de contos, entre eles “Meio Intelectual, Meio de Esquerda”. Filho do escritor Mário Prata, escreve aos domingos na Folha de São Paulo).

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...