segunda-feira, 15 de junho de 2009

QUAL A PALAVRA? Roseana Murray



Nas estradas mais antigas,

trilhas, atalhos,

nas montanhas altas, escarpadas,

nas vilas, nas cidades,

nos oceanos, cachoeiras,

em todos os rios

e fios de água,

em todas as ruas

e becos,

nos recantos escuros

e claros,

em cada pedaço

de mundo

grande ou pequeno,

uma palavra estandarte

costura a Terra no céu,

costura os homens na Terra,

inventa a vida.


Nos gestos de todo dia,

na mesa posta, no olhar,

no sorriso, na carícia,

uma palavra vem antes de todas,

é a chave da lua e do sol.


Lua perdida

nos quatro cantos

do mundo,

assombrando os sonhos.


Às vezes adormecida

no rastro vermelho

do sol.


Uma palavra é argila,

trigo e floresta.

É água macia

de lavar as mãos

e os corações.

Fio primeiro de todos os panos,

nessa palavra as palavras se banham.


Essa palavra tão pequena

e grande,

pássaro palpitante,

palavra viva em carne viva.


Palavra de mudar o mundo,

de fazer pão e telhado,

de abrir os cadeados,

as porteiras trancadas

do universo,

as águas azuis

que dormem no fundo

de cada homem.


Palavra escrita na palma

da mão de cada gente,

junto com as misteriosas

linhas da vida.

Junto com a trama

secreta

do destino.


É preciso soletrar

suas letras,

soprar bem alto

seu nome sonoro,

como poeira mágica,

como pólen, seiva

ou luz.


Nas chamas do dia,

nos ventos da noite,

pelos mares, oceanos,

desdobrar sua magia,

como se desdobram

as velas guardadas

de um barco.


Por todos os vales,

riachos, montanhas,

acordar seu nome,

soar seus sinos,

espalhar seu brilho.


Acordar seu nome

como o sol

acorda seus pássaros

e a noite os seus mistérios.


Para que os homens

de todas as terras,

de todas as línguas,

de todas as cores,

de todos os povos,

para que todos os homens

dancem junto com a terra

a dança silenciosa dos astros.


A dança secreta

dos astros,

desde sempre dançada,

infinitamente.


E para que a terra possa

continuar viva para sempre,

sempre viva rodando para sempre,

rodando para sempre,

rodando para sempre.



O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...