segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

RETROSPECTIVA


Arte - Magritte

Queridos leitores. O blog completou seu primeiro ano e, nessa caminhada, nos ensinou algumas coisas: postar poemas a leitores imaginários e de gostos variados tornou-se um exercício inspirador. Porém, o que mais nos deixa compromissados são as palavras dos leitores. É um compromisso tentarmos uma aproximação com suas expectativas e preocupações.

Fazer com que o exercício da escrita se torne mais intenso, acredito, depende de ouvirmos as vozes e os ecos dos que nos acessam. E as vozes se multiplicam e soam mais alto quando o poema fala de nossas experiências amorosas. É chegado o momento do poeta multifacetar-se, desdobrar-se nos mais variados planos subjetivos, para capturar e traduzir seus ecos sentimentais.

Descobri, no decorrer deste ano, que o poeta é, às vezes, sonhador, outras vezes gozador e, outras mais, é poeta fingidor, no sentido pessoano: “O poeta é um fingidor/ finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente...”.

Nossas dores de amor, creio, não têm cura a não ser pelas palavras. Assim, a poesia é nosso divã.

Vários e-mails dos leitores sussurram ao poeta suas aventuras e dramas, sucessos e percalços nos descaminhos do amor. E o poeta sente que deve compartilhar o que sente em meio às dobraduras da vida. Por isso, de acordo com a necessidade, vamos escancarar as portas de nosso consultório poético, para resgatarmos o percurso de nossas aventuras amorosas, visando melhor compreende-las.

CANSADO DE FUGIR


Seu nome é John. Movido não sei se por respeito ou cumplicidade, ele me envia um breve e-mail resumindo o que fez e o que deixou de fazer como aprendiz do amor, ora enredando-se, ora escapulindo, nas teias de façanhas e culpas, no ano de 2008.

Em linhas gerais, diz que se esforçou para ser compreensivo, como ele acha que todo amante deve ser. Porém, assim que a janela de uma nova aventura se abria, era pressionado pelo medo e, covarde, apressava sua fuga. Todas as vezes a dona Razão convencia-o de que aquele amor seria breve e resultaria em fracasso.

Duas coisas John percebeu e relatou-me: está repetindo, para cada novo amor, os mesmos atos. Em segundo lugar, essa atitudes deixam-no infeliz. Completa, para finalizar: “como poderei, poeta, superar essa situação, se ‘estou cansado de fugir de quem me segue, e de correr atrás de quem foge de mim’”?

***


Ufa, John! Trezentos e sessenta e cinco dias em busca de aplausos, esbarrando nos diversos cenários e figurinos!

Nós dois sabemos, há tempos, o que insinuam os cínicos: “Capriche, faça de conta que estás vivendo o último dia de tua vida!”

Comediantes, dizem-se indiferentes à comédia. Preferem assistir, na primeira fila do cinema, filmes de suspense e de tragédia. Não creio que, no seu íntimo, torcem pra mocinha, em vez da vilã.

Para contrabalançar o stress e correr em busca de elogios, o melhor a fazer é sentar sóbrio no bar, num papo sério, sobre futebol e política, com os ébrios. Na mesa do bar não deves cometer o acinte de quintuplicar tuas desventuras amorosas. Quando fores ao banheiro, e a bebedeira assoprar no teu ouvido que deves jogar conversa mole pra cima da turma, erga a tampa, sente no vaso e dejete alguns fleches de tuas volúpias. Passe uma água gelada no rosto, tome uns goles d’água e volte, em silêncio, para o teu canto.

A ordem é não repetir. Não imitar o relato de façanhas, como o fazem aos borbotões por aí.

No quintal, a roseira fez pose e se ofereceu durante os doze meses que se passaram. Não reparaste se tinham cor, espinhos e perfume. Quantas rosas mulheres, enigmas, olhares e elogios, exibiram-se na mesinha do centro de tua sala, bem animadas no copo de cica com dois terços de água?

Não creio que a oportunidade vá passar apenas uma única vez...

A comédia sobre o palco, depois que o pano subiu, não nos vai convencer se somos tolos ou sábios, por ainda acreditarmos numa natureza humana. Sim. Acreditas no amor. Porém, teus lamentos mostram que há preocupação demais, e pouca ação. Deves conhecer o seguinte provérbio: “Quem ama muito, fala pouco”.

Muito falar e se queixar é supervalorizar os dilemas sentimentais.

O Amor sincero precisa de complemento e cuidado. Vamos carrega-lo nos braços como se fosse um filho amado!

Asseguro-te que dona Razão é péssima conselheira nos assuntos de amor. Em vez de dar-lhe ouvidos em demasia, abra as cortinas e janelas e se deixe inebriar pela brisa da paixão.

Faça parte da trupe, não esqueças de representar teu papel. Porque, nos assuntos de amor, é preferível se ator do que espectador!

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...