Garotas
do prédio ao lado tomam sol
e estendem no varal desejos alucinógenos.
Não ligam pra mim, então lanço ao céu
nuvens de fumaça com aroma suspeito.
Faço pra
elas uma oração:
– Que belo dia de sol! parece que a chuva prometida se foi...
Como
gostaria de saber o que pensam deste garanhão calejado
que contempla – docemente – o copo pela metade!
Sinto-me
péssimo ao tentar uns contatos tímidos,
como se estivesse chegando noutro planeta
e multidões de pequenos centauros coloridos
me observassem, rindo,
Um
gigante estranho deu o ar da graça!
Janelas
se abrem e se fecham, cortinas sobem, cortinas descem,
meus olhos ficam embaciados diante de seus horizontes.
Observo
os cabelos, o movimento dos olhos,
as bocas e o olhar provocador e, ao mesmo tempo, indiferente.
Não sei
se deprimo ou se curto sua juventude,
dou de cara com um oceano de cascatas,
potências
que seus lindos corpos desencadeiam.
Ah, como
eu queria ter a senha de acesso e tudo decifrar,
interagir, deitar porres de orgias ao meu redor.
Não
consigo ser como o Velho Safado,
que se fortalecia na solidão –
era o seu maná diário.
As
garotinhas se enganam se pensam que em breve
vou repousar nas belas e suaves tardes no jardim dos mortos.
Ainda
consigo contar boas histórias.
Acredito em fortes emoções, meus brothers,
aguardo novas proezas, não quero que tudo vire cinzas.
Elas
ficarão radiantes ou decepcionadas
se descobrirem os pensamentos que tenho a respeito
de seus corpos modelados por minúsculos shorts e camisetas.
Se
imaginei ser um macho predador à moda antiga,
hoje não passo de um prendedor de roupas e também varal
que vai receber as carícias da brisa e do sol
secando suas calcinhas, shortinhos e sutiãs.
Um tanto
sensível, mas que já não é tudo aquilo,
prometo poemas sujos que as inspirem a incríveis
experiências sensuais ou, pelo menos, a um ataque de risos.
Eu sei de
tudo, enquanto aguardo o milagre:
um dia essa belezinha juvenil vai desaparecer.
Um
namorado hoje, outro amanhã e depois outro e mais outro...
Eu sei de tudo, e é por isso que espio por detrás dessas cortinas
tingidas pelo pó.
(B. B.
Palermo)